A vulnerabilidade dos biomas

Publicado em 28/09/2020 11h00 - Atualizado há 4 anos - de leitura

Quando guri, as queimadas de campos e roças novas, eram comuns.  Achava um espetáculo - talvez por não ter luz elétrica - o fogo longe, iluminando as noites escuras. Não sabia que o fogo utilizado para queimadas era inimigo do meio ambiente. Em verdade, queimada era o método de limpeza auxiliar das pessoas que trabalhavam com o agronegócio. Hoje, o nível de informações é outro. Passou-se da inocência ao pecado. Mas em alguns países não causam o mesmo impacto que no Brasil. Na França, ou o fogo é mera faísca ou aquece menos. Talvez a estatística explique: aqui tem monumental cobertura florestal; a França, não. A Europa, que destruiu quase tudo, quer ditar cátedra sobre meio ambiente. Para evitar a concorrência com nossa carne, soja, etc, boicota nossos produtos sob o pretexto de serem produzidos com a destruição de biomas.

No interior de Santo Ângelo, passei a infância em região de pequenas propriedades rurais voltadas à agricultura de subsistência. Quatro quilômetros da casa dos meus pais, predominavam extensas áreas destinadas à pecuária com os animais alimentados com barba de bode, um capim que cresce em tufos, atingindo 20 a 40 cm de altura. Quando novo é palatável; quando velho é rejeitado pelo gado. Os animais alimentados com barba de bode, só eram abatido com cinco, seis anos de idade. Hoje, o abate caiu para menos de três anos enquanto o peso de carcaça subiu de 16 para 20 arrobas. 

Barba de bode, como todo capim, brota, cresce e envelhece. Sua renovação se dava com as queimadas. Também para quem não viveu aqueles anos, ateado o fogo, dava colorido às noites, talvez por ser privado de luz elétrica. Passado o fogo, sobrava a cinza. Para os produtores era adubo. Lembro um fato: nos anos 1990, fui ao MS, com escala em Toledo. No PR, aguardava-me Hélio Sperafico, com que fui a uma das suas fazendas, ele o piloto de um monomotor, eu copiloto (GPS) para auxiliá-lo a visualizar o percurso: estradas no campo. Só que era época de queimadas. Às vezes, viajávamos cinco minutos sobre uma cortina de fumaça que impedia enxergar o solo. Foi loucura.

Nas lavouras, anos atrás, a palha de soja era queimada. Com o plantio direto, virou matéria orgânica e barreira à erosão. Aliás, nas lavouras do país não mais é usado fogo porque os resíduos são incorporados e a vegetação não mais vinga. Já no Pantanal, a vegetação é queimada para que pasto novo ressurja das cinzas, como era na minha adolescência. No Pantanal, a maneira de evitar as queimadas seria substituir a vegetação. Assim como no Chaco, o fogo ainda é prática usada. Mas os europeus são tolerantes com Argentina, Bolívia e Paraguai. No Pantanal, não pode ser descartado o fogo ilegal. Sim, há fogo legal. O Código Florestal abre exceções à prática agropastoril ou florestal, à prática conservacionista da vegetação nativa e à pesquisa científica. O fogo, legal (Lei 12.651/12) ou não (punido pela mesma lei), no Pantanal, ora fora de controle, e na Amazônia e no Cerrado é debitado ao governo, aqui, pelas oposições, fora, pelos países que veem o Brasil com maior capacidade de produzir mais alimentos.  

No Pantanal, não se sabe como as queimadas terminarão, mas se sabe como começaram: com a limpeza de uma reserva do Sesc; em uma máquina agrícola que pegou fogo; à beira da Rodovia Transpantaneira quando um carro capotou; em uma colmeia de abelhas em que fizeram fumaça para colher mel; e quando um fio de alta tensão provocou faísca. Quer dizer, o Pantanal é um ecossistema vulnerável. Para o escritor JR Guzzo, só “o STF é um ecossistema à parte”. Os 11 ministros recebem R$ 11.000,00/mês cada um só de auxílio-moradia. Mas que ninguém ouse atear-lhes fogo.

Queimadas têm muito a ver com o aquecimento do Planeta, e o aquecimento tem a ver com vidas. Duas questões, no entanto, impedem sua discussão racional: a ideologização do problema e os interesses econômicos e políticos antagônicos, internos e externos.

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