O papagaio Donatello

Publicado em 19/06/2020 13h00 - Atualizado há 4 anos - de leitura

A idade do papagaio Donatello sempre foi um grande mistério para a
família Farias, pois ele passa de pai para filho há muito tempo. Para
começar, ninguém sabe quem deu o nome do escultor italiano ao papagaio.

Possivelmente tenha sido obra de algum ancestral europeu, anterior à
vinda da família para o Brasil. A única informação segura é que o
pássaro está na família há muitas gerações. A avó Tereza, que completou
110 anos em março último, costuma dizer: “Ele já estava aqui quando eu
cheguei”.

Pedrinho, o mais esperto nos netos, descobriu uma pintura do século 18,
onde aparece seu tataravô, juntamente com a família e um papagaio. “Deve
ser ele!”, comentou mostrando o quadro para os pais. Quando mostrou para
o Donatello, este disse apenas: “Bons tempos!”, e deu um suspiro
profundo... Pedrinho ficou convencido de que o animal deve ter uns
trezentos anos.

Uma surpreendente manifestação de Donatello aconteceu em fevereiro,
diante da TV, o que confirmou a suspeita. No Jornal Nacional, o William
Bonner anunciou que o mundo estava prestes a enfrentar uma pandemia e
todos ouviram Donatello dizer, claramente:

— Ah, não! De novo?

Donatello tinha experiência com epidemias, concluiu Pedrinho. E logo
encontrou um livro com ilustrações das pandemias que tinham assolado o
mundo e mostrou-as ao papagaio, que tremia muito e cobria os olhos com
as asas. O pássaro passou uma semana tendo pesadelos. Não havia mais
dúvida. O papagaio tinha vivenciado epidemias diversas, como a gripe
espanhola, a epidemia do ebola, da SARS, da cólera, da varíola, da febre
amarela e agora experimentava a do coronavírus. Aquilo tudo era
insuportável para o velho animal. A família ouvia o papagaio falando
durante a noite: “Oh, não, mais caixões!”, ou então “Isolem-se, fujam
para as florestas!”, ou ainda “Cuidado, não é uma gripezinha!”. Os
familiares deduziram que ele anda confundindo informações, devido à
idade e aos lapsos de memória. Tornou-se irritadiço e agressivo.

O Pedrinho perguntou ao papagaio como tinha sobrevivido às epidemias
anteriores, mas ele respondeu laconicamente:

— Sou um papagaio, não um burro.

E não disse mais nada. Nos últimos meses Donatello acompanha todos os
noticiários e também passou a vigiar o comportamento da família. Na
última quarta-feira, o pai do Pedrinho chegou do trabalho e foi direto
para a cozinha, mas no caminho foi interrompido por um grito do papagaio:

— Não vai trocar o calçado, tio? Hein? Hein?

No jantar, todos concordaram que o Donatello seria um bom fiscal de
cuidados sanitários, seja pelas informações que obtinha nos noticiários,
seja pela experiência de sua longa vida.

Por isso mesmo acabou causando um grande desconforto para a família
alguns dias atrás. Os Farias receberam a visita de um tio, que mora em
Lajeado e que tratava de negócios aqui na cidade. O papagaio observou os
cuidados do visitante ao entrar na casa, e nada comentou. Horas mais
tarde, após se despedir, o parente já estava no passeio e ouviu o
Donatello gritar lá de dentro:

— Bota a máscara, desgraçado!

Apesar dos pedidos de desculpas, a avó Tereza acha que o parente nunca
mais vai voltar...

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