Coisas da cidade
Publicado em 28/07/2021 09h35 - Atualizado há 3 anos - de leitura
Compartilho a inconformidade manifestada pelo Aquiles Giovelli em relação ao destino do Musicanto. Na verdade, a cidade está num impasse. Já não sabe o que fazer com o festival que levou seu nome para além das fronteiras brasileiras. O Musicanto surgiu numa época efervescente dos festivais de música regional, mas foi sua proposta inovadora que despertou a atenção de muita gente. Foi aplaudido e celebrado. Virou referência, até mesmo fora do Brasil. Depois foi minguando.
Como não temos atrativos naturais para o turismo, nosso maior atrativo, durante quase três décadas, foi o Musicanto. Agora, parece que desistimos. Estaria o festival além da nossa capacidade de mobilização e organização? Estamos nos sentindo apequenados diante do desafio de preservá-lo (ou renová-lo)? Ou simplesmente estamos desconsiderando a importância da cultura? Por quê? É uma pena, mas a realidade atual é que o Musicanto está desidratado, talvez moribundo. Para a cidade, acho que não é uma boa notícia.
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Já estou na fila para assistir ao filme/documentário “Contrabando”, produção inesperada que já está sendo comentada Rio Grande afora. Tem a direção do jovem João Pedro Gottardo e será lançado em agosto.
As histórias dos “chibeiros” sempre povoaram nossa imaginação. Aliás, para o comércio-formiga o “chibo” continua sendo uma forma de sobrevivência. Tudo faz parte de um imaginário que envolve o rio Uruguai e as populações que vivem às suas margens. A expectativa é grande, pois é mais uma produção cultural que ajuda a formar e definir a cultura costeira, a qual, bem sabemos, é diferente daquela que caracteriza o pampa gaúcho.
Temos um universo de histórias e uma curiosa relação com os vizinhos castelhanos. Uma rica experiência entre povos irmãos. Aliás, se olharmos um pouco para o passado, veremos que já fomos uma coisa só, e que foram os impérios de Portugal e Espanha que nos dividiram. Depois, as políticas nacionais construíram os muros que nos separam até hoje.
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A propósito, em outubro será lançado o segundo volume do livro de contos “Da barranca”, reunindo histórias curtas desta região costeira. O primeiro volume, lançado em 2008, foi tão bem recebido pelos leitores que hoje os exemplares viraram raridade. É sinal de que o público gosta de histórias que tratam deste imaginário de fronteira do Uruguai, sejam elas fáticas ou imaginárias.
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Alguns dos deputados federais que habitualmente conquistam votos na região votaram a favor do projeto que triplicou o Fundo Partidário. O valor, que era de R$ 1,7 bilhão, passou para R$ 5,7 bilhões. Um custo extraordinário para o país. Não se trata de discutir o fundo em si, e sim seus valores. No ano que vem eles estarão circulando por aí, novamente, posando de bons moços, pedindo votos em nome da moralidade e da austeridade com o dinheiro público. E rindo baixinho...
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Amanhã tem manifestação pública na cidade, promovida por sindicatos de trabalhadores, com foco na vacina e no custo da cesta básica, este impulsionado pela inflação que deságua no caixa do supermercado. A cada compra, um susto.
Parece que, na medida em que cresce (ainda que lentamente) o número de pessoas imunizadas, cresce também a disposição para reivindicações. Motivos para isto existem às pencas. O silêncio anterior era apenas cautela.