O clamor dos rios

Publicado em 15/11/2021 07h00 - Atualizado há 2 anos - de leitura

Atendo pelo nome de Pessegueiro, mas podem me chamar de Pessegueirinho, Inácio, Santo Cristo ou Santa Rosa. É que todos fomos gerados no mesmo ventre, partilhamos os mesmos sentimentos.

Como irmãos univitelinos, temos muitas afinidades: tímidos ao começo, percorremos caminhos paralelos, distantes. Aos poucos, com os adeptos tributários, vamos crescendo e espargindo encanto, vida e alimento. Ao natural, aproveitamos os declives para somarmos forças e ampliarmos a oxigenação.

Como não somos egoístas, generosamente matamos a sede, propiciamos lazer, produzimos e ajudamos a produzir belezas naturais. Geramos energias. Criamos condições à produção de alimentos. Mas, ao longo dos tempos, fomos mal compreendidos, maltratados. Ao nosso gesto de candura, fomos humilhados. Nosso deslizar manso, sinfônico, transformaram em repositórios de dejetos. O pregresso, para o qual sempre somamos energias, nos relegou à morte. Hoje, o sentimento mais forte que nos une é o da dor.

Mas a mãe natureza, mesmo com seus gestos de grandeza, inclui admoestações. Cansada, amordaçada, moribunda, num grito desesperador, ainda assim conseguiu reuniu forças para proclamar: chega de agressões! A partir de agora, diante da menor chuva, invadam casas e cidades; diante da menor estiagem, deixem os homens passar sede. Só não deixem os animais sofrer; diante do menor sol, deixem as pessoas expostas; diante menor desvio de leito, parem de correr; diante do esgoto jogado em seu interior, exalem mau cheiro. Enfim, deem respostas ao nível das agressões perpetradas pelos malfeitores.

Aos argumentos de que as atitudes recomendadas eram extremadas, assemelhadas às da Lei de Talião, a resposta foi própria de quem chegou no limite da paciência. Lembrando a Bahia de Guanabara, o Rio dos Sinos, o Rio Uruguai e outros cartões-postais da era pré-Pedro Álvares Cabral, sentenciou: estamos no caminho do fim. Destarte, nenhuma tolerância mais com quem está a nos liquidar. Basta! Nossos caminhos estão obstruídos; a fauna e a flora agonizam. Não há mais tempo a perder, sob pena de sucumbirmos todos.

 Compreendemos, então, que o clamor da mãe natureza deve ser o nosso clamor também. Com atraso, mas ainda a tempo de salvarmos o pouco que resta, nossa tolerância aos que querem nos destruir, e o estão fazendo celeremente, deve ser zero. Antes límpidos, hoje estamos assoreados; cristalinos, potáveis, hoje somos poluídos e poluidores; outrora produtores de alimentos, hoje estamos quase sem vida. Será preciso clamor mais convincente que este?

Sem embargos, a decisão transitou em julgado. Unidos mais do que nunca, nós, Pessegueiro, Pessegueirinho, Inácio, Santo Cristo, Santa Rosa e outros coirmãos menores, mas nem por isso  de menos importantes, estamos, através da insurreição, na busca da ressurreição. Queremos seguidores. Nosso objetivo: sermos navegáveis, despoluídos, criatórios de seres vivos, pontos de lazer e de atração turística; fazermos com que o homem se encontre com a natureza e, por consequência, consigo mesmo.

O clamor dos rios de Santa Rosa, é o clamor dos rios do mundo inteiro. Logo, é o clamor de quem quer viver e quer que o mesmo aconteça com as futuras gerações.

Minhas coronárias, já afetadas por males semelhantes aos que afligem nossos rios, não impedem, no entanto, que levem e tragam do coração a esperança de poder vibrar um dia com crianças se banhando, sem remorsos, nas águas novamente cristalinas do Pessegueiro; de ver crianças - caniços nas mãos e varas enfileiradas de lambaris - aos curiosos que observam seu caminhar, dizendo: fomos pescar nas borbulhentas águas da cascatinha do Pessegueiro, logo abaixo do Curtume Fenner.

O projeto de unir forças para salvar nossos rios, coordenado pela Prefeitura Municipal, merece o apoio de todos.

********

O artigo acima publiquei em 7/4/2001 (jornal Gazeta). Na época, Prefeitura, Sinodal da Paz, MP e Estado realizavam o projeto “Pessegueirinho em busca de mais vida”. Não sei do resultado, mas sei que os rios podem ser recuperados. O Rio Reno, entre outros, que nasce nos Alpes Suíços, de cloaca a céu aberto, nos anos 1970, hoje, com água potável, banha vários países da Europa.

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