Histórias do Nicanor

Publicado em 13/06/2022 10h18 - Atualizado há 2 anos - de leitura

Nicanor Gomes de Almeida - Nicanor para a esposa Mirka Heinze,
a maior pintora (artista plástica) de Santa Rosa de todos os tempos;
Niquinho para seu cunhado Harry Heinze - marcou época pela vida
que levava e, principalmente, pelas histórias que contava, reais
ou ficcionais. Ele mesmo, como convém a um bom contador de
histórias, se convencia da veracidade das suas narrativas. Aliás,
espírito inventivo, uma das ferramentas de um bom contador de
história, não lhe faltava. Já, na diversificação entre o trabalho e o
lazer, Nicanor era também chegado numa carpeta, com um detalhe:
nunca perdia. Pelo contrário, era um ganhador contumaz. E não
se está a falar de esperteza de apostador. Nasci com ... pra lua,
se gabava Nicanor. Só que nunca se soube de algum valor que
tivesse amealhado no pano verde da mesa sem quina (carteado
era seu hobby). Viam-se, sim, cheques caucionados que, justiça
seja feita, Nicanor nunca deixou de honrar, seguindo à risca a
máxima de que dívida de jogo é obrigação sagrada.

Uma das histórias mais fantasiosas do Nicanor foi a criação, por
ele, de uma traíra (peixe de água doce) guaxa - isto é, fora da
água, à base de mamadeira de leite de vaca, no pátio de sua casa
junto com galinhas e outros bichos. Claro que nunca acreditei, mas
ele contava a criação com riqueza de detalhes que convencia a
qualquer um. Já, para o Harry, que conhecia seu cunhado como
a palma da própria mão, era mais uma “mentirinha do Niquinho”.
Noves fora, achava criativas suas historinhas, máxime pelos
dotes artísticos do seu autor. Achava impossível, mas, ancorado
na ficção, exercitava uma visão à frente do meu tempo. Logo, não
acreditava, acreditando.

Sabe-se que alguns animais passam por mudanças na forma
e na estrutura corporal. Outros, durante séculos, passaram por
metamorfose. São seres oriundos da mesma família, separados
por catástrofes, que se adaptaram a ambientes diferentes, uns
passando a viver em água doce, outros em água salgada. Há 50
anos, criar um peixe fora da água era uma façanha, exceto para o
Nicanor. Mas o pior foi fim trágico que teve a traíra do Nicanor. Ela
seguia os passos do seu dono, inclusive nas idas até a chacrinha.
Mas, para chegarem até lá, tinham de atravessar um riacho por
uma pinguela (tronco de árvore que serve de ponte).

Certo dia, quando ambos se encontravam na chácara, se armou
um tempo feio (Adair de Freitas cantaria “o tempo se armou de
fato, lá pro lado do Uruguai”) seguido de um toró de água que
rápido agitou as águas dos riachos. Nicanor e seu “animalzinho”
de estimação trataram de voltar para casa. Não deu tempo. Ao
atravessarem a pinguela molhada, a traíra, não acostumada a ambientes
escorregadios, caiu no riacho. Ponto! Estava consumada a
tragédia. Não foi possível salvar a traíra. Coitada, morreu afogada.

Agora, curiosidade mesmo era a escolha de empregados para a
agricultura. Nicanor, em determinado momento da vida resolveu
ampliar sua lavoura. Talvez para esquecer a sentida perda da sua
traíra guaxa, talvez no embalo do início do ciclo mecanizado da
agricultura brasileira. Assim, em 1970 arrendou uma terra em São
Borja. Junto ao BB - comandado na época por Nestor Jost, primo
da sua esposa Mirka - fez financiamentos para investimentos e
custeio. Faltavam apenas os empregados.

Nicanor chamou para si a seleção. Na sede da granja, em uma
salinha improvisada, atendia um a um os candidatos. Como nenhum
satisfez os requisitos de admissibilidade, começaram a
circular informações das estranhas perguntas que o Nicanor
lhes fazia. Descobriu-se que nenhuma era sobre a capacitação
para o ofício. Era mais ou menos assim: depois de perguntar
o nome, Nicanor pediu “me empresta o pente”. O candidato
levava a mão ao bolso e puxava o pente. Daí fazia o 2º pedido:
“me empresta o espelho”. Se o candidato a emprego portasse
ao menos um dos dois objetos solicitados, não passava pelo
pente fino do Nicanor.

Questionado, Nicanor explicou: “Quem usa pente e/ou espelho
é preguiçoso, não trabalha comigo”. Como os costumes de lá
para cá mudaram, qual seria o critério de avaliação que adotaria
Nicanor hoje, não sei. Que psicólogo, que nada! É provável que
Nicanor, avesso a inovações, perguntasse: “tem WhatsApp”? Em
caso positivo, estaria fora.

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